quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A Árvore Da Vida - Melhores Filmes de 2011/Oscar 2012

★★★★★
Excelente

"O coração de um homem tem duas formas de encarar a vida. A forma da natureza. E a forma da graça. Você deve escolher qual das duas seguir. A graça não tenta agradar a si mesma. Ela aceita ser desprezada, esquecida, rejeitada. Ela aceita insultos e machucados. A Natureza apenas tenta agradar a si própria."

Eu costumo (e prefiro) analisar os filmes apenas como espectador, de uma maneira impessoal. Mas não sei se conseguiria fazer isso com "The Tree Of Life", no original. Acho que é uma experiência em que cada um vai entender - e reagir - de uma forma.

Uma coisa é certa: é impossível não gostar muito, ou gostar apenas um pouco de "A Árvore da Vida". Esse é o tipo de filme que causa profunda admiração ou ódio. Conheço pessoas que amaram o filme, outras que odiaram, e outras que nem tiveram paciência para ver até o final.
Realmente, é um filme um tanto difícil de digerir. Muitos simbolismos, filosofia, questionamentos, poucos diálogos, ritmo meio "lento" e imagens aparentemente aleatórias que podem, a primeira vista, cansar quem está assistindo. No começo eu cheguei a pensar algo como: "estou vendo um filme ou um documentário do Discovery Channel?" Parece que Terrence Malick pegou um monte de imagens (lindas) aleatórias e foi colocando no filme, sem nenhum critério. Mas ao decorrer do filme eu fui percebendo que as imagens não são tão aleatórias e sem sentido assim.

Na sua origem, "A Árvore da Vida" é um filme sobre família, infância e dor da perda. Até aí tudo bem, nada de muito novo. Mas quando tudo isso é misturado nós temos uma história mais complexa. A família O'Brien  por fora parece ser perfeita, mas na verdade é oprimida por um pai (Brad Pitt) que, apesar de amoroso, é intolerante e comanda a casa com mãos de ferro. Na figura desse pai que é representado um coração que escolheu seguir a "forma da natureza", citado no início dessa crítica. Já na figura da mãe, a "forma da graça". A morte de um dos 3 filhos, afeta a todos (o pai em menor escala, que parece tentar esconder seus sentimentos), e vemos toda essa situação pelo olhar de Jack (Hunter McCracken), o filho mais velho, que tenta lidar com a dor da perda do irmão, além do seu crescente rancor que vai guardando pelo seu pai - rancor esse que, em certo momento, o faz pedir a Deus para matar o pai. Uma mistura capaz de marcar uma criança pelo resto da vida. E é isso que acontece.
O filme não segue uma linha temporal e, logo somos apresentados a um Jack 40 anos mais velho (Sean Penn), que ainda não se desprendeu do passado e questiona Deus pela morte de seu irmão. E é com base nos questionamentos de Jack e de suas lembranças que o filme funciona. Com poucos diálogos até nas suas lembranças, os pensamentos de Jack é que vão guiando o telespectador pelas imagens que vão sendo apresentadas.

Apesar de ter um tom religioso, "A Árvore da Vida" não faz questão de pregar nenhuma mensagem, dando espaço a várias formas de interpretação. Num dos questionamentos de Jack, ele pergunta a Deus: "Onde você estava (quando o irmão morreu)"? Quem somos nós para Você?"; E então somos apresentados a uma das cenas mais comentadas: a da origem de tudo. Mais de 10 minutos com lindas imagens do Universo, logo na primeira parte do filme - o que pode afastar os mais apressadinhos que querem explicações de tudo logo. No mesmo momento em que alguns podem interpretar que Deus criou tudo desde o início, assim como Ele nos criou e tem um propósito para tudo (como aponta o versículo da bíblia que abre o filme), outros podem interpretar a cena como a demonstração da insignificância do Homem diante do Universo e de tudo que aconteceu para que ele (o homem) existisse; ou seja, talvez Deus não ligue, talvez Ele não exista. E essas são apenas duas das muitas maneiras de se interpretar.

O filme acerta também no aspecto técnico. Mallick dirige bem seus atores, a trilha sonora quase constante é sensacional e, num filme com poucos diálogos, ajuda a passar as emoções dos personagens; e a fotografia é belíssima. Os planos usados na filmagem, com ângulos na maioria das vezes de baixo pra cima (mesmo nas cenas de Jack adulto), dão a impressão de estarmos vendo o filme sempre pela perspectiva de uma criança.

Com tantos detalhes e cenas abertas para interpretação, seria impossível comentar tudo aqui nesse espaço, mas "Árvore da Vida" é uma experiência que te impossibilita de ficar indiferente. Pode não ser o melhor filme do ano, mas, com certeza, é o mais diferente, o "mais único".

E na cena final, mesmo sem ter muita certeza do que se tratava - talvez o encontro no Paraíso, talvez um misto das memórias de Jack, vai da interpretação de cada um -, senti um estranho nó na garganta. E percebi que "Árvore da Vida", por mais piegas que soe, é um filme que você sente, não apenas vê.

The Tree Of Life
EUA , 2011 - 139 min.
Drama
Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Brad Pitt, Sean Penn, Jessica Chastain, Hunter McCracken
Indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Fotografia.

4 comentários:

  1. Realmente, este filme é sensacional. Acredito que tenha sido o filme mais lindo que ja assisti.

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    1. Realmente é lindo demais. Pena que muita gente não entendeu ou nem tentou entender.

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  2. Mais um grande filme de Terrence Malick.

    Parabéns pelo texto.

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